Quando, no início de 2006, descobri que estava grávida, fiquei muito feliz e entusiasmada!
Procurei ler bastante e informar-me acerca da gravidez, do parto, dos cuidados com o bebé... Desde o primeiro momento sabia que queria muito amamentar, que isso era o mais natural a fazer. Até sonhei com esse momento em que iria conhecer o bebé e alimentá-lo pela primeira vez... mas a realidade foi bem diferente...!
Quando o meu filho nasceu, no hospital, ele não foi logo colocado ao meu peito... levaram-me para uma sala de recobro e permanecemos cerca de duas horas separados. Quando finalmente uma enfermeira o trouxe, olhou para o meu peito (eu tinha mamilos planos) e disse-me que o bebé não ía conseguir mamar assim. Sem me dar mais nenhuma satisfação, foi buscar um biberon de suplemento e começou a dá-lo ao bebé. Eu fiquei chocada e comecei a dizer-lhe que queria muito dar de mamar, para ela trazer o bebé... lá mo trouxe e amamentei-o pela primeira vez, desajeitadamente mas com muito amor.
Eu sabia (pois tinha lido durante a gravidez) que ter mamilos planos ou retraídos não era impeditivo para a amamentação. Mas na prática eu estava a ter muitas dificuldades e nenhuma ajuda, nem das enfermeiras no hospital, nem da pediatra do meu filho, que, poucos dias após o seu nascimento, sugeriu que o melhor a fazer seria dar-lhe leite artificial. As mamadas tornaram-se muito dolorosas, o meu peito gretou bastante e chegou a sangrar.
Entretanto lembrei-me que no curso de preparação para o parto me tinham dado um folheto de uma associação que ajudava as mães na amamentação. Liguei para o SOS Amamentação e falei com uma voluntária que se prontificou a ajudar-me. Explicou-me como deveria fazer para o bebé pegar correctamente no peito, e, mais importante, transmitiu-me confiança! Ela sabia que eu seria capaz de amamentar sem suplementos!
Mais tarde ainda visitei uma conselheira em Aleitamento Materno para me certificar acerca da pega mas a partir dali tudo correu de forma muito mais tranquila.
Deixámos o suplemento em poucos dias e passei a amamentar em exclusivo, enquanto o meu filhote crescia de dia para dia.
Superadas as dificuldades a amamentação decorreu naturalmente até à data (o meu filho já tem dois anos e meio e continua a mamar).*
Fiquei de tal forma marcada por tudo o que aconteceu que continuei a querer aprender cada vez mais sobre amamentação, as dificuldades mais frequentes, como superar, etc.
Pensava em como era possível que alguns dos profissionais das maternidades, que lidam diariamente com as mães e os recém-nascidos, não ajudassem a concretizar essa relação tão especial e essencial que é o aleitamento materno!
Mais tarde surgiu a oportunidade de fazer o curso de Conselheira em Aleitamento Materno da OMS (Organização Mundial de Saúde)/Unicef e prontamente me inscrevi!
Descobri uma nova vocação que abracei com muita motivação, dedicação e amor!
As minha dicas para uma amamentação bem sucedida:
*Informe-se o mais possível sobre amamamentação ainda durante agravidez.
Frequente um curso de preparação para o parto, uma formação sobre aleitamento materno, participe num grupo de apoio à amamentação. Envolva nesse processo as pessoas que vão estar mais próximas de si quando o bebé nascer (o seu companheiro, a sua mãe, a irmã, a sua sogra...) e partilhe tudo o que está a aprender. Dessa forma, eles também ficarão mais preparados para a ajudar depois do bebé nascer.
Na internet pode ter acesso gratuito a sites com muita informação de qualidade (1)
Infome-se sobre os locais onde existem conselheiras em Aleitamento Materno disponíveis para dar apoio na sua região. Guarde os contactos num local acessível.
*Tenha expectativas realistas.
Não espere que o bebé coma de 3 em 3 horas e durma nos intervalos.
Nas primeiras semanas, o bebé vai querer mamar sempre que estiver acordado, sem horário. Não olhe para o relógio. Em vez disso, tente seguir o seu instinto de mãe.
Esteja atenta aos sinais de fome: levar as mãos à boca para sugar, virar a cabeça para mamar quando está ao colo ou virar-se para mamar quando lhe passamos o dedo na cara. O choro é um sinal de fome tardio, significa que o bebé já tinha fome à algum tempo, por isso devemos evitar deixá-lo chegar a esse ponto.
Não tente ser uma “super mulher”. Aceite a ajuda que lhe oferecerem, não se preocupe com limpezas/arrumações e durma quando o bebé dormir.
*A regra de ouro para ter bastante leite é dar de mamar!
A produção de leite materno baseia-se no princípio da oferta e da procura, por isso quanto mais der de mamar, mais leite vai produzir. Sempre!
*Acima de tudo, confie em si e no seu corpo!
A esmagadora maioria das mulheres é capaz de amamentar com sucesso. Não existem "leites fracos" e são raras as condições impeditivas da amamentação.
Hoje em dia sabemos que a principal causa do desmame precoce é a falta de informação, de apoio e a falta de confiança das recém-mamãs.
Como superar as dificuldades iniciais mais comuns:
*Mamilos gretados e dolorosos
Geralmente são sinal de que o bebé não está a pegar correctamente no peito. A causa pode estar relacionada com o uso da chucha ou biberão que confundem o modo de sugar e devem ser evitados.
Certifique-se que o bebé está em contacto com a mãe (barriga com barriga), com a cabeça, ombros e corpo em linha recta. A boca do bebé deve estar bem aberta , abocanhando a maioria da aréola (zona escura ao redor do mamilo). O queixo fica a tocar na mama e o lábio inferior está enrolado para trás.
Para tratar o mamilo deve andar com o peito ao ar o mais possível e espalhar um pouco de leite materno no mamilo após a mamada. Se necessário pode colocar também uma pomada de lanolina pura.
Evite ou minimize ao máximo o uso de protectores de mamilo em silicone, pois podem trazer efeitos secundários, como a diminuição da produção de leite e a rejeição do peito (tal como a chucha e o biberão, provocam confusão de sucção).
*Ingurgitamento mamário (seios muito cheios e doridos)
Amamentar com frequência e a “pedido” para evitar que o leite se acumule no peito.
Verificar se a posição e a pega estão correctas.
Aplicar uma fonte de calor na mama antes da mamada (pode aquecer uma meia de algodão cheia de arroz no micro-ondas, mas cuidado para não aquecer demasiado e queimar!). De seguida faça uma massagem com os dedos em forma de pente desde a base da mama (perto das costelas) para o mamilo, como se estivesse a “pentear” o peito. Em alternativa pode combinar a massagem e o calor num duche morno. Se a mama estiver tão cheia ao ponto de o bebé ter dificuldade em “agarrar” o peito faça uma pequena extração antes (apenas o suficiente para aliviar a pressão).
Se o desconforto persistir após a mamada aplique frio (por exemplo um saco de ervilhas congeladas que fica bem maleável, envolto num pano).
É importante tomar estas medidas desde cedo, para evitar que o ingurgitamento evolua e acabe por se transformar numa mastite, por exemplo.
*Produção de leite insuficiente/Bebé que não parece satisfeito/Pouco aumento de peso
Certifique-se que está a fazer uma pega correcta (ver mais acima).
Amamente a “pedido” e observe os sinais de fome do bebé (não espere até o bebé chorar).
Deixe o bebé mamar livremente até soltar espontaneamente a mama, por forma a assegurar-se que bebe todo o leite da mama, e em especial o leite do final (mais rico em calorias).
Não dê chuchas nem biberons.
Lembre-se do princípio da oferta e da procura. Se necessário aumente o número de mamadas. Caso seja preciso também pode fazer uma estimulação extra com a bomba de extração.
Evite os suplementos pois se o bebé beber o leite artificial perde apetite para mamar. Caso seja imprescindível prefira o copinho ao biberão, dessa forma o bebé não vai confundir a sucção e será mais fácil manter a amamentação. Também pode, se for possível, fazer extracções e ir substituindo o leite artificial pelo leite materno.