terça-feira, 21 de julho de 2009

Não vá carregada para o parto

O medo, a insegurança, a falta de auto-confiança, a distância em relação ao corpo são pesos que carregamos para o parto e vão condicioná-lo. Preparar-se para o parto é sobretudo aliviar a carga.
Os desafios das mulheres são pouco importantes?

A parteira mexicana Naoli Vinaver diz que carregamos muitas malas connosco para o parto. Não é só a mala com as nossas roupas e as do bebé. São as malas com tudo o que temos por resolver na nossa vida, com tudo aquilo que o que nos amarra. São malas bem pesadas, por vezes. E às vezes são imensas.
Durante o trabalho de parto vamos libertando-nos de muitas delas, vamos-nos desamarrando. Por isso se diz que o parto pode ser transformador. Mas se o peso for excessivo, o parto pode arrastar-se, complicar-se ou até não ter início. Por isso, a enfermeira parteira Lúcia Leite diz que «a preparação para o parto faz-se no coração e na cabeça, trabalhando os medos e a auto-confiança.»

Por isso, o obstetra Ricardo Jones escreve: «Tanto quanto no sexo, existe muito mais no nascimento humano do que o que se pode encontrar no corpo e suas medidas.» Apesar de a obstetrícia ainda não incorporar na sua prática esta evidência científica, a verdade é que se descobriu «uma nova dimensão no nascimento, qual seja, a indissociabilidade das emoções e sentimentos ao lado dos eventos mecânicos já conhecidos. Ficou evidente que muitas mulheres falhavam em ter seus filhos de uma forma mais natural porque algo além do corpo as impedia.»

O medo faz com que as mulheres estejam contraídas e não deixa libertar as hormonas que estimulam as contracções e a dilatação. Isto é assim porque somos mamíferos e a natureza, que sabe o que faz, encontrou esta forma de proteger as nossas crias: elas não nasceriam em ambiente ameaçador, mas apenas quando a mãe estivesse tranquila e segura.
Tendo em conta estas evidências, vale a pena preparar-se e aliviar alguma da sua carga. Faça-o por si e pelo seu bebé. Um parto com menos intervenção é um parto mais saudável, com menos riscos, que leva a um pós-parto infinitamente mais fácil. O poder de dar à luz o seu bebé está em si. Só tem de descobri-lo. Deixamos-lhe algumas dicas:

# Converse com alguém da sua confiança, fale dos seus medos, mesmo daqueles que parecem mais inconfessáveis, mais patetas, mais simples ou mais complicados.

# Se não tem ninguém com quem falar do mais íntimo do íntimo, dos medos mais inconfessáveis, se lhe custa verbalizar, ouvir-se dizer coisas que ainda nem percebeu muito bem... escreva. Um diário de gravidez é bom, mas é para deixar para a história. Escreva num caderno que seja só seu, onde não sinta os olhares de quem vai ler. Registe sentimentos, medos, inseguranças e estará a libertar-se de um grande peso. Escrever é uma excelente maneira de deitar cá para fora porque ninguém nos está a ouvir, mas também de organizar as ideias, trabalhar os medos, estruturar as prioridades.

# Participe em listas de discussão sobre parto humanizado.

# Procure uma doula que a poderá acompanhará na gravidez, no parto e no pós-parto dando-lhe apoio emocional, ajudando-a a desfazer muitos dos seus medos.

# Faça uma lista daquilo que quer fazer ou resolver antes de do parto. Não se limite às compras e à preparação do quarto do bebé.

# Pratique ioga ou pilates. Ajuda não só fisicamente, mas também mentalmente promovendo bem-estar e a união com o bebé.

# Aprenda técnicas de relaxamento ou meditação. Para quem tem altos níveis de ansiedade, estas técnicas são uma excelente forma de encontrar mais tranquilidade e confiança no próprio corpo. Um relaxamento profundo produz ondas cerebrais alfa, diminui a tensão arterial, reduz a tensão muscular, logo reduz também o stress e a ansiedade.

# Visualização positiva: visualizar o bebé estimula a ligação com ele e acalma os medos.

# Abrande o ritmo perto do final da gestação. Se puder, suspenda o trabalho. Dedique-se a fazer o ninho e relaxar. Passeios à beira-mar e ouvir música são boas actividades para aproveitar o fim do tempo de gestação.

texto de Ana Esteves, 2009/06/16
fonte http://www.mae.iol.pt

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