sábado, 19 de junho de 2010

Amamentação e depressão materna

Como conselheira em aleitamento materno, sou bastantes vezes confrontada com casos de mães lactantes a quem foi diagnosticada depressão pós-parto.
Estas mães contactam-me, regra geral, porque os médicos lhes dizem que têm obrigatoriamente que desmamar os seus bebés para poderem tratar-se e tomar medicação. Estas mães são literalmente encostadas entre a espada e a parede, sem lhes serem apresentadas alternativas, e muitas vezes com bebés ainda bem pequenos...
Quando estas mulheres estão empenhadas na amamentação e se vê que isso é algo que lhes dá força e auto-estima, um desmame forçado e repentino é um pensamento no mínimo angustiante (ainda mais tendo em conta que a mulher se encontra já deprimida).

É possível tratar uma depressão pós-parto sem deixar de amamentar!

Em primeiro lugar, a amamentação e as hormonas envolvidas no processo de aleitamento materno podem ajudar a combater a depressão:

- a mãe que está empenhada na amamentação e para a qual esta é gratificante sente auto-estima por poder proporcionar alimento ao seu filho;

- a amamentação promove o vínculo mãe-bebé, o que transmite segurança e bem-estar à mãe e que a leva a encarar de forma gratificante os cuidados prestados ao bebé (que são exigentes);

- a hormona oxitocina, presente na amamentação, promove sentimentos de bem-estar e é mesmo considerada um anti-depressivo natural;

- a hormona prolactina, presente na amamentação, causa sonolência na mãe o que poderá ajudar a mãe a conciliar os seus ritmos de sono com os do bebé e consequentemente descansar mais e com melhor qualidade;

- amamentar ajuda a manter baixos os níveis de hormonas de stress, como o cortisol (este benefício estende-se aos bebés, que também sentem o stress das mães a nível hormonal);

Em segundo lugar, os tratamentos para a depressão podem ser compatíveis com a amamentação:

- existem anti-depressivos compatíveis com o aleitamento materno que não apresentam risco para o bebé;

- há outras formas de combater a depressão, como a psicoterapia, e tratamentos naturais, como a homeopatia, por exemplo;

- existem estudos que sugerem que a depressão pode agravar com o desmame (quando este não é desejado pela mãe) e que há depressões que despoletam após o desmame (o que sugere uma relação causa-efeito); outros estudos sugerem que mães que não amamentam têm maiores probabilidades de sofrer de depressão pós-parto;

Se tem depressão pós-parto e está a amamentar, não deixe de se tratar! A depressão está a prejudicá-la e pode prejudicar também o seu bebé!

Os médicos que aconselham o desmame fazem-no, acredito, com boa intenção. Apenas não têm conhecimentos suficientes sobre aleitamento materno.
Se o seu médico a aconselhou a desmamar o seu bebé devido a uma depressão pós-parto pode tentar falar com ele e apresentar-lhe algumas fontes:

  • Um documento sobre depressão pós-parto e amamentação: ver aqui
  • Recursos onde pesquisar a interferência dos fármacos na amamentação: ver aqui e aqui
Também pode considerar a hipótese de contactar outro profissional de saúde, um psicoterapeuta e/ou técnicos especializados em tratamentos alternativos naturais.

Testemunho

A actriz norte americana Brooke Shields sofreu uma severa depressão pós-parto após o nascimento da sua primeira filha. Depois de recuperada resolveu partilhar a sua história com outras mães escrevendo o livro Down came the rain.
Nele a actriz conta a dificuldade que teve em engravidar e a gravidez difícil em que foi confrontada com a morte do pai, em cujo funeral foi impedida de estar presente por não poder viajar.
Brooke preparava-se para um parto natural, fazendo inclusivé aulas de yoga, mas após 24 horas de trabalho de parto é submetida a uma cesariana de emergência, com algumas complicações pelo meio.
Após as primeiras semanas em casa com a bebé, a actriz começou a perceber que não se sentia bem...

Familiares, amigos e o marido também perceberam que Brooke não estava nada bem. Por isso, começaram a querer afastá-la do bebé, aconselhando-a a parar de amamentar e dedicar um tempo para si. Mas, curiosamente, tudo o que ela não queria era deixar a amamentação de lado, pois sentia que essa era a sua única hipótese de manter contacto com a filha e conseguir ser feliz com a nova vida.

Resolveu rapidamente procurar ajuda e em poucas semanas voltou a sentir a vida sorrir-lhe!

Aguns dos sintomas de depressão pós-parto podem ser:

- sentimentos de tristeza e/ou irritabilidade constante
- incapacidade de sentir prazer/felicidade com coisas que antes lhe davam prazer
- dificuldade em dormir (mesmo quando o bebé está a dormir)
- cansaço extremo/sentimento de exaustão
- sentimentos de desespero e angústia recorrentes
- Sentimentos de culpa, incapacidade, pessimismo, sensação de inutilidade
- choro constante
- alterações no apetite
- vontade de permanecer só
- Sintomas físicos como dores de cabeça, problemas digestivos, dores crónicas que não desaparecem
- falta de interesse pelo bebé

Nota: alguns sentimentos de insegurança, cansaço, choro e angústia são comuns no pós-parto imediato. Trata-te do chamado Baby Blues que surge alguns dias após o parto e passa naturalmente. Se estes sentimentos se prolongarem de forma constante após as primeiras semanas de vida do bebé deve procurar ajuda.

2 comentários:

Anónimo disse...

Estou com depressao ha tanto tempo que já nao consigo mais analisar os meus sentimentos, a minha vida, vivo numa gangorra tao horrivel de emoçoes que já nao vejo mais claramente, só me preocupo o quanto a vida da minha filha poderia ser diferente se eu pudesse me livrar deste mal.
Izabel

Sofia Guerra Carvalho disse...

Olá Izabel,

Lamento muito que se sinta assim...
Espero sinceramente que se possa sentir melhor em breve! Muita força e acredite que, ainda que custe muito, é possível ultrapassar!

Um beijinho,
Sofia

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