terça-feira, 2 de junho de 2009

Dormir com os pais

São cada vez mais os adeptos do co-sleeping, o sono em família. Conheça os benefícios, apontados pelo Dr. Sears.

Quem tem filhos sabe que a educação não é uma conjunto de regras adquiridas, compiladas em manual, que basta seguir para ter como resultado crianças seguras, felizes e bem educadas.
Quem tem filhos sabe que o caminho da educação faz-se andando, ou seja, adaptando as convicções de adultos sem filhos às crianças que nos calharam em sorte. Teorias há muitas e para quase todas à quem defenda o contrário.
Uma das mais polémicas é que respeita ao sono. Ensinaram-nos a acreditar que os bebés devem dormir no seu berço e mais crescidos na sua cama. Que dormir com os pais é um péssimo hábito. Que os torna dependentes e mimados. Que devemos ensinar os nossos fihos a dormir a noite inteira, sozinhos nos seus quartos. Aliás, é a pergunta que mais nos fazem quando temos um bebé: «Já dorme a noite inteira?»
É cultural esta tendência para tornar desde cedo as crianças autónomas dos pais. Uma necessidade para quando tem de se trabalhar o dia inteiro longe dos filhos. Noutras culturas, não é assim. A autonomia conquista-se gradualmente, não é imposta, não é «ensinada». Por isso, há quem defenda que o sono seja partilhado, ou seja, que as crianças possam dormir com os pais enquanto isso lhes der segurança e conforto. Em inglês, chamam-lhe co-sleeping, uma prática que parece ter cada vez mais adeptos, segundo estudos realizados nos EUA. Contra a corrente, são poucos os pediatras ou especialistas em desenvolvimento infantil que o defendam. Mas já existem.
Em entrevista à jornalista Maria João Amorim, Pedro Caldeira da Silva, pedopsiquiatra do Hospital Dona Estefânia, defendeu recentemente que esse é um dos conselhos que dá aos pais de bebés irritáveis ou difíceis de acalmar: «O medo de que os bebés se tornem «mimados» ou cheios de vícios por dormirem com os pais é infundado, esclarece. «Dormir em família pode ajudar a regular o sono. Os bebés tornam-se mais calmos e os pais mais tranquilos.» O importante, na opinião deste especialista, é que os pais conheçam o seu bebé, as suas características e necessidades individuais, e não sigam indicações generalistas.

Também recentemente, no site do reconhecido pediatra William Sears, foi publicado um artigo que aponta os principais benefícios, a nível de saúde e de desenvolvimento, do co-sleeping. Na sua opinião não há um sítio correcto para o bebé dormir. São os pais que têm de descobrir o que é melhor para o seu bebé. Para que saiba que há diferentes formas de pensar e actuar, deixamos-lhe um resumo dos benefícios apontados:

Os bebés dormem melhor
Os bebés que dormem com os pais adormecem mais facilmnente e dormem melhor. Adormecer nos braços da mãe ou do pai é um prazer e dá ao bebé a noção de que o sono é bom e desejável. Por outro lado, quando está na transição do sono profundo para o sono leve, o que o faz acordar várias vezes durante a noite, a presença dos pais, fá-lo sentir-se seguro para voltar a entrar no sono profundo. Ou então talvez precise de mamar um bocadinho e rapidamente voltar a dormir. Nem a mãe nem o bebé chegam a acordar completamente, ou seja, descansam mais e melhor.

As mães dormem melhor
Mães e bebés entram em sincronia nos seus ritmos de sono. Há mães que relatam como acordam exactamente antes de o seu bebé abrir os olhos. Pelo contrário, mães que dormem em quartos separados relatam como acordam abruptamente com o choro do bebé. A mãe não acorda aos primeiros movimentos do bebé e este tem de acordar completamente e chorar bem alto para que o ouçam. Depois de o bebé voltar a dormir a mãe está completamente acordada e tem muitas vezes dificuldade em voltar a adormecer. Perde muito tempo de sono e de manhã está exausta. Muitas noites assim, com despertares abruptos e repentinos de estados de sono profundo, levam à situação em que muitos pais se encontram de privação do sono e exaustão.

Facilita a amamentação
As mães que amamentam sabem que dormir com os bebés é a forma mais fácil de o fazer. Os bebés voltam a entrar facilmente no sono profundo depois de mamar - nem chegam a acordar - e as mães, não tendo de sair da cama, levantar-se, também ficam menos despertas. Tal como os bebés voltam a entrar facilmente no sono.
Mães que sentem dificuldades na amamentação durante o dia, podem resolvê-los dormindo com os seus bebés. Sears acredita que os bebés sentem as mães mais descontraídas e que produção das hormonas envolvidas na produção do leite é mais eficaz quando a mãe está descontraída ou mesmo adormecida.

Compensa o tempo em que estão separados
Trabalhando o dia inteiro longe dos bebés, dormir com eles de noite é uma forma de voltarem a estar unidos e compensarem o tempo em que não puderam tocar-se durante o dia. A mãe descontrai mais e o bebé também.

Os bebés crescem mais
Depois de trinta anos de observação em consultório de famílias que praticam o co-sleeping, Sears afirma que os bebés crescem mais não apenas em tamanho, mas atingindo todo o seu potencial de crescimento, tanto a nível físico, como emocional e intelectual. Talvez seja o toque, pele com pele, que estimula o desenvolvimento. Ou talvez as mamadas extra... já que estes bebés mamam mais do que os que dormem em quartos separados.

Bebés e pais ficam mais ligados
É outras das observações do pediatra. Na sua base de dados «Crianças que crescem bem, o que fazem os pais» o co-sleeping é muito frequente. A vinculação torna-se mais forte e evidente.

Reduz os riscos de Síndrome da Morte Súbita
A segurança é uma das razões que leva muito pais a deitar o bebé no berço ou noutra cama. Porque há o medo de sufocar o bebé. Mas os mais recentes estudos apontam para o contrário: bebés que dormem com os pais estão menos sujeitos à Síndrome da Morte Súbita. As excepções são: pais fumadores ou que consomem bebidas alcoólicas.
Uma opção para quem quer ter o bebé junto a si de noite, mas com mais espaço é baixar uma das grades da cama do bebé e juntá-la à cama de casal. Assim é fácil tocar no bebé e puxá-lo para si para mamar, mas existe mais espaço e o sono pode ser mais tranquilo.

Para terminar, o especialista alerta para o facto de o co-sleeping não ser uma regra. Tem benefícios mas é apenas uma opção. Aos que têm medo que os bebés fiquem tão habituados que depois nunca mais queiram ir para o quarto deles, diz: «Os bebés vão deixar a cama dos pais naturalmente tal como deixam de mamar. Normalmente isso acontece por volta dos dois anos.
Para saber mais: askdrsears.com


«Sigo o meu instinto»
Natália Fialho é uma das praticantes em Portugal do sono partilhado. Tem três filhos, com cinco, três e 10 meses. Dormirem juntos, na mesma cama, king size, foi uma opção natural. «Uma forma de responder mais porntamente às necessidades deles e de dormirmos todos melhor. Acredito que cada família deve encontrar o seu equilíbrio e a sua forma ideal de descanso. Esta é a nossa.»
Com a chegada do mais novo, Natália e o marido encostaram uma cama de solteiro à cama grande. As crianças têm os seus quartos, mas à noite é na cama dos pais que todos dormem.
«Quando o bebé nasceu fui para outra cama com ele, porque era ainda muito pequenino. Ainda tentámos pôr os mais velhos no seu quarto, mas Catarina (de três) não se deu bem», conta.
«Se os adultos gostam de dormir juntos, por que é que havemos de obrigar as crianças a dormir sozinhas se elas não se sentem ainda seguras para isso e são mais frágeis?» O pediatra das criança não concorda, mas neste como noutros assuntos Natália segue o seu instinto e as teorias da educação intuitiva que lhe dão segurança.

texto de Ana Esteves, 2009/06/02
in http://www.mae.iol.pt/

3 comentários:

Anónimo disse...

olá,

devo dizer que a primeira vez que li sobre co-sleeping foi no "Aqui há bebé" e não consegui conter a indignação: "então agora estão aqui a dizer tudo ao contrário do que deve ser?".

Depois, pensando melhor, decidi pesquisar. São aos milhares as referências à partilha da cama com os filhos e até a OMS o recomenda.

Estou a tentar recolher informação útil sobre o assunto e vou começar agora a ler o Continuum Concept (Jean Liedlof) e espero que esta seja a pedra de toque que vai deitar por terra todos os pré-conceitos que eu tinha sobre educação.

Sinto-me como se tivesse caído de repente num mundo que desconheço e no qual não ainda não me oriento muito bem.

Eu pensava, entre muitas outras coisas, que os filhos só se podiam ter nos hospitais (ou espaços similares) porque nos nossos dias já não se justifica que seja de outra forma.

Pensava que os bebés deveriam dormir no seu berço desde o primeiro dia e no seu quarto, no máximo, até ao 6º mês de vida.

Estava segura de que ter um bebé a dormir com os pais era negligência e que até podíamos matar o bebé com o nosso peso.

Podia garantir que devíamos dar de mamar de 3 em 3 horas (ou algo do género) e alternar a maminha mesmo quando o bebé parece querer continuar a mamar da mesma maminha.

Pensava eu que bebés e fraldas estavam sempre associados. Estava mesmo convicta que era impossível criar um bebé sem fraldas. Pior ainda, nunca tinha pensado em tal possibilidade!!!!!!!!!

etc..., etc...

Assim, de repente e sem pré aviso, fico a saber que afinal:

- já faz sentido ter os bebés em casa. Isso mesmo, na nossa sociedade, com todos os cuidados pré-natais, ecografias, cudados e atenções, já faz sentido ter os bebés num ambiente acolhedor pois os riscos são menores do que os partos domiciliares do sec XIX (foi só um exemplo).

- Dormir com o bebé não só não é mau como é recomendado. Os laços entre pais e filo estreitam-se, as mamadas tornan-se mais fáceis para mãe e filho, os bebés tornam-se menos rígidos, irritadiços etc... ainda não sei muito sobre isto mas continuo a aprender.

E sabem que mais? As mamadas de 3 em 3 horas podem ser responsáveis por muitos dos problemas da amamentação. A criança deve poder mamar quando sentir necessidade. Assim sendo quando mais próximo o corpo da mãe esta estiver, melhor. É também por isso que se transportam os bebés em panos e slings. Não é só porque é giro!!!!

Quanto às fraldas, há muito quem opte pela chamada higiene natural e consiga mesmo que o bebé utilize o pote em vez das fraldas. Em contextos onde não abundam os tecidos e os plásticos imagino que esta nem sequer seja uma opção mas sim um hábito tão "natural" como nós utilizarmos as fraldas.

Agora, pergunto eu, mesmo sabendo que estou a optar pelo que faz mais sentido, mesmo sabendo que a minha intuição diz ser o correcto, como é que vou conseguir dar conta de tanta novidade? Como é que vou conseguir aplicar tudo isto? Terei disponibilidade para estar tão próxima do meu filho? E, especialmente, como vou conseguir explicar aos outros estas opções que parecem tão excêntricas, tão non-sense, tão negligentes?

O que diz a vossa esperiência sobre estas questões? Quem já experimentou/vivênciou estas práticas pode dar dicas úteis?

Obrigada a tod@s e obrigada Sofia por ter sido a primeira pessoa a chamar a nossa atenção para este novo mundo.

moya disse...

olá WANT e Sofia!
LOLOLOL
Finalmente encontro mais alguém que teve a mesma reacção que eu... Quando comecei a pensar na hipótese de ter filhos estes assuntos eram para mim todos desconhecidos (não tive irmãos ou primos próximos) e só sabia os clichés que apontas... Mas como um novelo (ou uma novela fascinante), cada pedaço de informação fazia-me pensar e procurar por mais, especialmente porque fazia sentido!! Neste momento, passados quase 3 anos de começar a investigar sobre o assunto, posso dizer que sou uma mamã feliz, que teve um maravilhoso e rápido parto aquático em casa, e pratica co-sleeping (e recomendo!!) Uso fraldas de pano e ainda não vacinei a pimpolha. Tudo decisões informadas e partilhadas com o meu marido. Um beijinho e obrigada Sofia pela divulgação e bom trabalho!

Bárbara disse...

Olá Sofia!

Já nos conhecemos do SOS ( a minha filha mais nova é a Lu, que deixou de mamar sunitamente aos 13 meses lembra-se?)


A minha filha foi prematura e por diversas razões, puesemo-la a dormir conosco.

Correu tudo bem, lindamente até, ela deixou de mamar mas estava cada vez mais colada a mim, só cnsegfui dormir com a mão no MEU pescoço.

Acontece que ela está enorme, (felizmente) a nossa cama é muito pequena, e o meu marido teve de sair da cama, porque a única pessoa que descansva era ela.

Foi muito complicado, mas há cerca de 2 ou 3 semanas que consigo que ela adormeça (comigo ao lado , de mão dada) na cama dela e passe lá a noite (pelo menos atá amanhecer.)

Só queria dizer que a situação no MEU caso, se tornou difícil.

tenho um filho que tem agora 8 anos, e apesar de nunca ter sido tão agarrado a mim como a irmã, adormecia sempre na minha cama e a partir mais ou menos das 3 da manhã voltava para lá. Até que eu engravidei e como ele se mexe muito tive medo dos pontapés na barriga, e tivemos que passar só ao "adormecer " e "acordar" na nossa cama.

Os nossos filhos são realmente extraordinários, e o mais importante é que sejam felizes, mas sem Pais felizes não há filhos felizes, e é muito dificil enconyrar o ponto de equilibrio.

Um grande beijo,
Bárbara

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