quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Babywearing


A teoria do apego faz uso do "babywearing”, o costume de carregar o bebê num carregador de pano como um canguru ou mochila ou uma tipóia de bebê como maneira de promover o vínculo entre mãe/pai-filho e a responsividade da mãe/pai. Embora seja pouco usual em nossa cultura, babywearing é uma prática comum ao longo da história da humanidade e ainda é muito comum hoje em algumas partes do mundo. Adicionalmente, tipóias e outros carregadores macios possibilitam dar colo e amamentar com as mãos livres, permitindo convenientemente que a mãe possa cuidar de seu bebê e ainda realizar diversos tipos de trabalhos e tarefas.

Colo, choro e vínculo

Bebês carregados choram menos e ficam menos inquietos que bebês que passam a maior parte do dia sem contato físico com seus pais. No estudo de Hunziker e Barr (1986) sobre carregar o bebê e seu efeito no choro do mesmo, mostrou-se que carregar o bebê cada vez mais durante o dia reduz tanto a duração quanto a qualidade do choro do bebê. Nesse estudo, que incluiu 99 duplas mãe-bebê , as mães do grupo experimental (49 duplas) receberam carregadores de bebê macios e foram orientadas a carregarem seus bebês durante três horas por dia sem ser porque choravam ou para alimentá-los durante oito semanas. O resultado foi que com seis semanas, a idade em que o choro dos bebês na sociedade ocidental atinge seu pico, o grupo de bebês carregados cada vez mais choravam e ficavam inquietos 43% menos que o grupo controle; isto significava aproximadamente uma hora a menos de choro por dia. Estes bebês também eram alimentados mais frequentemente, embora não durante mais tempo, e permaneciam calmos e atentos durante mais tempo por dia que o grupo controle de bebês. Este estado de calma e atenção dos bebês é tipicamente considerado pelos estudiosos em desenvolvimento infantil e pediatras como o estado em que o bebê é mais capaz de aprender (Sears, 1995a; Sears & Sears, 1993).
O desenvolvimento do vínculo também é afetado ao carregar cada vez mais o bebê, como demonstrado num estudo de díades mãe-bebê por Anisfeld, Casper, Nozyce, e Cunningham (1990). Em contraste com o estudo de Honziker e Barr (1986) no qual participaram mães Canadenses de classe média, este estudo foi conduzido com a participação de mães pertencentes a classes sócio-econômicas mais baixas e decendentes de grupos étnicos minoritários num grande centro urbano dos Estados Unidos. No estudo de Anisfeld et al. participaram 49 pares. O estudo procurou provar que mães que carregavam seu bebês em carregadores macios durante os três primeiros meses de vida seriam mais sensíveis e responsivas a seus bebês depois de 90 dias que as mães que carregavam seus bebês em cadeiras de plástico e ainda, que este comportamento responsivo estaria relacionado à formação de um vínculo seguro aos 13 meses. As hipóteses formuladas pelos autores provaram serem corretas. As mães dos carregadores de pano não eram apenas mais responsivas em relação aos seus bebês na infancia mas 83% das crianças demonstraram forte vínculo na idade de 13 meses. Isto foi comparado ao grupo controle onde apenas 38% das crianças formaram vínculos fortes na mesma idade. Curiosamente, no grupo controle, quatro mães usaram um carregador de pano macio além de usar o assento de plástico tipo cadeira de carro e três das quatro mães apresentaram vínculos fortes com seus bebês. Os autores também notaram que havia uma alta porcentagem de relacionamentos de apego evitante dentro do grupo controle (38.5%), consistente com dados existentes sobre apego mãe-bebê em populações urbanas de baixa-renda semelhantes. Ficava claro que carregar cada vez mais o bebê num carregador frontal macio melhorava consideravelmente as chances da dupla mãe-bebê de formar um vínculo forte e era uma intervenção valiosa de ser implantada em populações de alto risco.

Método Mãe Canguru

Uma grande quantidade de pesquisa adicional na importância do contato físico para pais e bebês provêm do uso do Método Mãe Canguru para bebês prematuros. O Método Mãe Canguru (MMC) foi inicialmente desenvolvido em maternidades da Guatemala onde a falta de incubadoras fez com que pusessem os bebês dentro das roupas das mães para mantê-los aquecidos. Desde então, o MMC tem demonstrado beneficiar muito recém-nascidos permitindo que eles regulem melhor seu ritmo cardíaco e sua respiração, melhorem o sono, cresçam mais depressa e com menos choro e recebam alta antes dos prematuros que não usaram o MMC (Sears, 1995b).
O Método Mãe Canguru também demonstrou beneficiar o vínculo mãe-filho (Tessier et al., 1998). Num estudo de 488 bebês prematuros nascidos em Bogotá, Colômbia encontrou-se que além dos benefícios fisiológicos do MMC, as mães que cuidaram de seus bebês desta maneira desmonstraram um vínculo afetivo mais forte e alteração na sua percepção do filho, houve também um efeito de resiliência, que fez com que a mãe que praticava o MMC se sentisse mais competente para cuidar de seu bebê mesmo quando alterações de saúde requeriam uma internação hospitalar mais longa. Estudos também analisaram o uso do MMC em bebês a termo e determinaram que o MMC é benéfico em promover temperaturas corporais e níveis de glucose saudáveis assim como reduzir o tempo de choro em bebês nascidos a termo. (Cash & O'Quinn, 1996). Estudos de casos do uso de MMC com gêmeos prematuros e seus pais adolescentes (Dombrowski et al., 2000) e com bebês nascidos a termo e mães com dificuldades de amamentação (Meyer & Anderson, 1999) também demonstraram benefícios tanto emocionais quanto físicos para as díades envolvidas.

Evidência Antropológica

De acordo com estudo de Lozoff e Brittenham (1979) sobre a forma de cuidar dos bebês nas sociedades de caçadores-coletores e outras sociedades não industriais, o padrão do comportamento humano em relação aos bebês têm sido sempre de carregá-los ao colo. Os pesquisadores encontraram que bebês que ainda não engatinhavam eram carregados mais de 50% do tempo nas sociedades estudadas de caçadores-coletores. Essas mães também carregam seus filhos durante toda a primeira infância. Entre os !Kung do Deserto de Kalahari, isso permite uma amamentação quase contínua, enquanto que em outras sociedades de caçadores-coletores, a amamentação acontece em regime de livre-demanda. Estas crianças são atendidas quase imediatamente quando choram e frequentemente com muita afeição. Ao contrário da crença ocidental que crianças cuidadas desta maneira são exageradamente dependentes, estes bebês desenvolveram cedo independência da mãe, voluntariamente passando mais da metade do dia com seu pai ou outras crianças, entre 2 e 4 anos de idade. Na maioria das sociedades não-industriais estudadas os bebês não eram tão carregados quanto nas sociedades de caçadores-coletores, mas a mãe ainda é a principal figura, ela dorme na mesma cama ou quarto que a criança e a criança é amamentada por mais de 24 meses. Os pesquisadores observaram que nestas condições o choro das crianças era atendido rapidamente e com uma resposta apropriada e carinhosa. Os autores notam que a situação dos bebês nos Estados Unidos é drasticamente diferente desses padrões com crianças passando somente 25% de um período de 24 horas em contato com sua mãe devido à proliferação do uso de bebês-conforto, cadeirões de comer, balanços e cercadinhos, além do conselho dos pediatras de serem usadas áreas de dormir separadas para o bebê, resultando na estatística lamentável de mais de 43% dos episódios de choro dos bebês americanos são ignorados (Blackwell, 2000; Lozoff & Brittenham, 1979).
Uma comparação fisiológica da composição do leite materno leva a crer que os humanos foram feitos para carregarem seus bebês (Lozoff & Brittenham, 1979; McKenna et al., 1993). O leite materno em mamíferos que escondem ou deixam seus filhotes em ninhos e outros locais seguros entre as mamadas possui altos teores de proteína e gordura. O leite dos mamíferos que carregam seus filhotes ou daqueles onde a cria permanece ou hiberna com a mãe, possui teores de proteína e gordura mais baixos. O leite materno humano tem baixos teores de proteína e gordura identificando um ritmo de mamadas muito frequentes e abundante contato físico com a mãe como um padrão ótimo de cuidados maternos para humanos. Quer você acredite que os humanos evoluíram ou fomos criados por Deus, fica evidente até no leite materno que as mães foram feitas para carregarem seus bebês com elas.

Texto de Tami Breazeale
Foi professora de adolescentes com distúrbios emocionais e de comportamento em escolas privadas e públicas durante cinco anos antes de virar mãe. Sua tese completa de mestrado em educação está disponível no endereço: http://www.visi.com/~jlb/thesis.html, e apresenta uma revisão da literatura existente sobre distúrbios de apego, teoria do apego e a importância de promover comportamentos orientados para a maternidade com apego para combater o desenvolvimento de distúrbios na próxima geração. Tami atualmente mora em Minnesota, EUA, com seu marido e três filhos pequenos.

1 comentário:

moya disse...

gostei muito do texto! obrigada!
m.

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