Nesta fase de introspecção, prestes a chegar ao Inverno, proponho uma reflexão sobre a Menopausa, não como um fim mas como o início de um período novo e frutífero:
Muitas mulheres menopáusicas sonham que estão a dar à luz. Esses sonhos de parto são importantes - significam que há muito dentro de nós que necessita de vir à luz. Nesta cultura, as mulheres que estão prestes a entrar na menopausa, ou que já a iniciaram, necessitam mais do que nunca mergulhar fundo dentro de si próprias e dar à luz o que lá aguarda por ser expresso. Não podemos continuar a deixar que a nossa cultura silencie a sabedoria da mulher sábia - a mulher que contém o seu sangue sagrado.
Escreve Susun Weed: "O processo da menopausa - não o último menstruo, a última gota de sangue, mas todos os treze anos do processo da menopausa - prepara o caminho para o ritual iniciador à volta do mundo, tal como as necessidades/capacidades das mulheres menstruadas se tornam a base de todas as outras iniciações. Durante o processo de menopausa, cada mulher vê-se imersa e na criação de três fases clássicas de iniciação: isolamento, morte e renascimento... Os nossos corpos femininos insistem na totalidade, integridade, verdade e mudança. Por muito que uma mulher gostasse de negar o seu eu-sombra, o seu corpo não lho permitiria. A menopausa confronta cada mulher e, assim, toda a comunidade com a escuridão, o desconhecido."
Com ou sem o auxílio das hormonas, toda a mulher beneficiará se entrar na menopausa conscientemente, pronta a recolher os dons disponíveis nesta fase da vida. O que temos a perder não se compara em valor com o que temos a ganhar: encontrar as nossas próprias vozes e a coragem de falar a nossa verdade. Quando as mulheres o fazem, são verdadeiramente irresistíveis no seu poder e beleza. Tenho notado que, onde quer que vá, cada vez mais mulheres com mais de cinquenta anos têm melhor aspecto do que jamais tiveram. Como cultura, estamos verdadeiramente a redifinir o que significa envelhecer com sabedoria.
Apenas há alguns anos, a minha mãe começou a expressar a sua criatividade e ligação com os animais, aprendendo a arte de os esculpir em pedra. Até então, nunca se tinha considerado criativa nem artística... e estava demasiado ocupada a criar cinco filhos para descobrir os seus dons nesta área. Mas agora, aos setenta e um anos, o trabalho dela é belo e inspirador - ela, como tantas outras depois da menopausa, descobriu aspectos de si própria que não sabia que existiam. Também intervém muito nas reuniões municipais e outros debates do seu interesse. Já não receia dizer a verdade num grupo ou na própria família. Diz ela: "Não tenho nada a perder, e cheguei à conclusão de que as pessoas podem muitas vezes beneficiar do que tenho para dizer."
Num casamento familiar recente, conduzi um ritual de benção para a noiva do meu irmão, para celebrar o seu casamento próximo e lhe dar as boas vindas à nossa família (...) O leque de idades daquele círculo ía dos dezasseis aos oitenta e três anos. Senti-me abençoada por termos a sabedoria de três mulheres mais velhas, fortes, poderosas e capazes à disposição de todas nós naquele círculo, mas especialmente pela minha filha. Que previlégio é ter mulheres honestas, directas, fisicamente saudáveis, com mais de setenta anos, nas nossas vidas. Dão-nos esperança, coragem e orientação para o caminho à nossa frente. Como cultura, estivemos demasiado tempo sem essas mulheres sábias, honestas e poderosas de antigamente - demasiado tempo sem as imagens da sua beleza, poder e força. Acolhamo-las de regresso. Quer conheça ou não algumas neste momento, lembre-se que estão dentro de cada uma de nós, à espera de nascer através da iniciação da menopausa.
Christiane Northrup, em Corpo de Mulher, Sabedoria de Mulher (vol II)
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