Obrigada ao universo por ser mulher e por ter a oportunidade de sentir a força da vida em todo o seu esplendor durante o nascimento da minha filha.
"Episiotomia? Claro que sim. Sempre. Andar enquanto faz a dilatação? Quando começarem as dores vai é ter vontade de deitar-se quietinha. Não sabe se quer epidural? Ah! Ah! Claro que vai querer. E se pretender um parto assistido por mim vai ter que ser marcado. Vai ter comigo à maternidade, num sábado ou num domingo e induzimos." Não. Decididamente não queria um parto com este obstetra por perto. A sorte é que eu já estava grávida. Depois deste discurso, dúvido que alguém tenha coragem de engravidar, tal o inferno que parece ser o parto. Valeu-lhe a sinceridade, ao contrário de outros médicos que vão tentando adiar a conversa do parto lá para as 36 semanas e depois vêm com histórias de que "o colo está verde" e "as ancas são estreitas" e blá, blá, blá, "você não sabe parir e ainda bem que me tem a mim".
Saí do consultório desolada. O corpo é meu. O parto é meu. Porque raio é que os outros querem ser a estrela? Depois de muito procurar encontrei uma rara obstetra que acreditou em mim e que me deu todos os incentivos para eu conseguir ter a minha filha da forma que tinha idealizado. Com calma e sem intervenções desnecessárias - soro, com ocitocina incluída, CTG contínuo, epidural sem eu ter pedido, episiotomia só porque sim, ou obrigatoriedade de estar deitada só para dar mais jeito ao médico.
Fiz o meu plano de parto - sabendo que era apenas um plano - e vivi a gravidez tranquila, preparando-me mentalmente para o grande momento. Imaginei-me a parir muitas vezes, quis ouvir todos os relatos (bons e maus para não ser apanhada de surpresa), vi muitos partos (na televisão, em documentários), li as histórias reais que circulam na internet e confiei nas boas experiências da minha mãe e da minha avó. "Se elas conseguiram, eu também consigo."
A única possibilidade de ter um parto como desejava era ir para um hospital privado. A obstetra garantiu-me que não haveria intervenções médicas à partida, mas, se houvesse algum problema, teria os equipamentos necessários à minha disposição. Seria a combinação ideal. Sentia-me confiante e prudente. Sabia que iria ser respeitada.
Antíestrofe
Acordei e notei um líquido morno nos lençóis. Supostamente ainda era cedo. 37 semanas e 6 dias. Senti uma água morna, transparente, mas nada que chegasse para me encharcar os pés. Na dúvida liguei para a doula, para a médica e para o Hélder, não me lembro por que ordem, e decidimos que o melhor era ir ao consultório ver o que se passava.
Juro que ao entrar no carro nem sonhava o que me estava para acontecer. Segui como se fosse apenas mais uma consulta de rotina, sentindo os habituais pontapés de bons dias na barriga. Assim que me viu a médica mandou-me pôr de cócoras para perceber que líquido era aquele. Mas nada. Tudo aparentemente seco. Segeriu-nos que fossemos dar uma volta para ver se acontecia alguma coisa. Estava um lindo dia de sol. O plano era ir até ao fim da rua e voltar mas a meio do caminho comecei a sentir exactamente aquilo que me tinham descrito que poderia ser o sinal de que a Catarina estava pronta: dores como se estivesse para me vir o período. Voltámos para trás, devagar, e interrompemos outra vez as consultas para avisar sobre a minha nova condição. Era uma sensação leve ainda. Segundo os habituais relatos de primeiros partos, teria ali entretenimento para muitas horas.
Próxima paragem: CTG. A enfermeira e o Hélder iam relatando as linhas do gráfico que saía no papel. 70, 80, 90. As contracções marcavam pontos à medida que eu sentia a minha barriga a ficar cada vez mais dura.
Algum tempo depois a médico voltou, mediu-me a dilatação e disse as palavras que me soaram como um tiro de partida: "Estás com seis dedos!". Lágrimas. Sorrisos. Gaguez súbita. Nervoso miudinho. Estava na hora. Isto está mesmo a acontecer-me!
"Se queres ir para o hospital, temos de ir já. Ou queres ficar aqui?" Num instante, imaginei-me a entrar no carro, imaginei o trânsito, chegar ao hospital, preencher papéis, perder a minha roupa e sei lá mais que maldades me poderiam fazer.
Decidimos ficar. Na sala destinada a fazer a dilatação antes de ir para o hospital, na sala onde se pode aprender a massajar os bebés, na sala onde já tinhamos pensado "que giro seria parir aqui".
De repente deixei de ser eu.
Os pensamentos voaram da minha cabeça e fiquei entregue ao meu corpo. A roupa foi-me saíndo pelas pernas e pelos braços sem eu dar conta. Um calor a correr-me pelas veias. Os olhos a fecharem-se para ser só eu e o meu bebé.
O silêncio. As mãos reconfortantes da médica, da enfermeira e do Hélder na minha pele. Eu em pé agarrada à balança que pesa os bebés. Eu sentada no banco de parir. Eu de gatas. Eu pendurada no pescoço do Hélder. Eu sem saber que coisa era aquela que estava a sentir. Umas ondas que de vez em quando me revolviam as entranhas.
O Hélder sempre ali. Enroscado em mim. Olhando-me nos olhos. Segurando-me. Mudo (tantas vezes eu lhe tinha pedido: "não me digas nada"). A médica e a enfermeira sentadas no chão, vestidas de branco e cor-de-rosa, sem sapatos, sem relógio. As consultas acabaram por hoje.
A música que eu escolhi. Está a tocar a música que eu escolhi. Um som ameno que me transporta para o aconchego da minha casa. Tantas vezes eu me imaginei a fazer-te nascer, Catarina, ao som desta música. Mas por mais que imaginasse, nunca suporia isto que me está a acontecer.
As ondas vão e vêm. Avisam primeiro. Começam pelo fundo da barriga para inundar o corpo todo em poucos segundos. Depois, a maré desce e tudo fica calmo. Respiro fundo e reparo que a canção diz "Dreaming my dreams with you". Só espero que isto corra bem. Só espero...
A médica encosta o CTG portátil à minha barriga. "O bebé está bem", diz-me baixinho.
Abro os olhos por um segundo e vejo mais um sorriso que me conforta. Chegou a minha doula. Lembro-me que falei com ela ao telefone antes de entrar na sala, mas não faço ideia do que lhe disse. Já não era eu.
Oiço os gritos que saem da minha boca e não os conheço. Não posso ser eu. Eu nunca gritei assim. Pareço uma leoa. Nua. Cabelos desgrenhados. Livre. Cheia de poder. Cheia de força. Cheia do mundo todo dentro de mim a querer saír.
Penso na Catarina. Como será ela? Como será vê-la? Tê-la ao colo. Chamo por ela.
Não tenho medo. Não tenho pressa. Não faço ideia há quanto tempo isto me está a acontecer. Sento-me no banco de parir, com os pés firmes no chão e encosto-me para trás, ao peito do Hélder. Foi o meu corpo que assim quis. Vejo a médica e a enfermeira sentadas à chinês à minha frente. Pedem-me que me solte, que me liberte. Deixo-me ir.
A Catarina já espreita. Já posso senti-la. Estico a mão e toco-lhe levemente o cocuruto. Eu toquei na minha filha! Sinto o bafo quente do Hélder na minha orelha. Sinto que ele está a sorrir. Rio-me com ele. É o primeiro momento-mais-feliz-da-minha-vida do dia de hoje.
As ondas transformam-se num incêndio. O meu corpo todo arde. A porta de saída é um anel de fogo. Grito mais alto e mais estridente do que a sirene dos bombeiros. Aí vem ela. A cabeça já está deste lado. És tão corajosa, Catarina.
Respiro fundo. Espero. Tu é que decides quando queres entrar nesta vida. Enquanto te preparas, faço-te mais uma festa. São ondas, são marés, são fogos, são labaredas, é frio, é calor. É o mundo todo a saír-me de dentro directamente para me encher os braços, o peito e a vida.
Minha filha.
Finalmente tenho-te deste lado. Serena. Quente. Macia. Forte. Maravilhosa.
Os braços do Hélder por cima dos meus. Não existe mais nada. Somos só nós os três. E eu agora de olhos bem abertos. E o corpo que volta a ser meu para te poder sentir com todos os poros.
Abres tu também os olhos. Olhas-me enquanto procuras a mama. Parece que toda a vida fizemos isto. Parece que toda a vida nos conhecemos.
Aos poucos volto a ser o que ainda resta de mim. Estou cansada mas cheia de energia. Tenho fome. Tenho vontade de ir à rua gritar "Vejam bem o que me aconteceu!"
O pediatra, chamado de propósito observa-te ao meu colo.
Admira-se ao ver-te mamar com tanto vigor. Ausculta-te sem te tirar dos meus braços. "Está super!"
Deitamo-nos num colchão. Pai, mãe e filha juntinhos, pele com pele. Vejo que o sol continua a brilhar lá fora.
Epodo
Os meus desejos são ordens. Apetece-me pão com manteiga e um sumo de fruta. Num instante, aparece uma bandeja com o melhor pão com manteiga do mundo, sumos frescos e uma broas tão saborosas como o momento.
Estou no máximo da adrenalina.
Parece que tenho uns elásticos a prenderem-me os cantos da boca às orelhas. Médica, enfermeira, doula e pai também sorriem, orgulhosos. Só tu descansas, imune ao que te espera.
A prima Lúcia junta-se a nós. Foi ela que trouxe a minha mala da maternidade. Foi graças a ela que pude ser embalada pela música doce dos Cranberries.
Passamos o tempo a observar-te, a tocar-te, a cheirar-te, a amar-te. É impossível dormir, tal é a excitação. Ao final da tarde, estreias o teu primeiro fato, a tua primeira fralda. A minha roupa também volta ao meu corpo. Devagar, a vida recupera o ritmo.
A caminho de casa parece-me estranho que os carros continuem a andar, os prédios se mantenham de pé, as pessoas permaneçam indiferentes, depois da fantástica aventura que acabou de me acontecer.
Entro na minha sala ainda de dia. A doula certifica-se de que não nos falta nada. A médica irá visitar-nos no dia seguinte.
A família mais próxima faz questão de nos ir dar um beijinho. Estão doidos com a nossa proeza. Como uma sopa deliciosa feita pela minha mãe.
24 de Maio de 2007. 14h07. Coordenadas de um dia perfeito. Abres os olhos, mamas e voltas ao teu sossego. Dormimos os três na nossa cama. Exaustos. Felizes. Apaixonados. Completos. A noite inteira abraçados. A minha família.
*Título "roubado" à canção "Ode to my family", dos Cranberries
Texto de Patrícia Lamúrias,
in revista "Pais & Filhos", Maio/08
Saí do consultório desolada. O corpo é meu. O parto é meu. Porque raio é que os outros querem ser a estrela? Depois de muito procurar encontrei uma rara obstetra que acreditou em mim e que me deu todos os incentivos para eu conseguir ter a minha filha da forma que tinha idealizado. Com calma e sem intervenções desnecessárias - soro, com ocitocina incluída, CTG contínuo, epidural sem eu ter pedido, episiotomia só porque sim, ou obrigatoriedade de estar deitada só para dar mais jeito ao médico.
Fiz o meu plano de parto - sabendo que era apenas um plano - e vivi a gravidez tranquila, preparando-me mentalmente para o grande momento. Imaginei-me a parir muitas vezes, quis ouvir todos os relatos (bons e maus para não ser apanhada de surpresa), vi muitos partos (na televisão, em documentários), li as histórias reais que circulam na internet e confiei nas boas experiências da minha mãe e da minha avó. "Se elas conseguiram, eu também consigo."
A única possibilidade de ter um parto como desejava era ir para um hospital privado. A obstetra garantiu-me que não haveria intervenções médicas à partida, mas, se houvesse algum problema, teria os equipamentos necessários à minha disposição. Seria a combinação ideal. Sentia-me confiante e prudente. Sabia que iria ser respeitada.
Antíestrofe
Acordei e notei um líquido morno nos lençóis. Supostamente ainda era cedo. 37 semanas e 6 dias. Senti uma água morna, transparente, mas nada que chegasse para me encharcar os pés. Na dúvida liguei para a doula, para a médica e para o Hélder, não me lembro por que ordem, e decidimos que o melhor era ir ao consultório ver o que se passava.
Juro que ao entrar no carro nem sonhava o que me estava para acontecer. Segui como se fosse apenas mais uma consulta de rotina, sentindo os habituais pontapés de bons dias na barriga. Assim que me viu a médica mandou-me pôr de cócoras para perceber que líquido era aquele. Mas nada. Tudo aparentemente seco. Segeriu-nos que fossemos dar uma volta para ver se acontecia alguma coisa. Estava um lindo dia de sol. O plano era ir até ao fim da rua e voltar mas a meio do caminho comecei a sentir exactamente aquilo que me tinham descrito que poderia ser o sinal de que a Catarina estava pronta: dores como se estivesse para me vir o período. Voltámos para trás, devagar, e interrompemos outra vez as consultas para avisar sobre a minha nova condição. Era uma sensação leve ainda. Segundo os habituais relatos de primeiros partos, teria ali entretenimento para muitas horas.
Próxima paragem: CTG. A enfermeira e o Hélder iam relatando as linhas do gráfico que saía no papel. 70, 80, 90. As contracções marcavam pontos à medida que eu sentia a minha barriga a ficar cada vez mais dura.
Algum tempo depois a médico voltou, mediu-me a dilatação e disse as palavras que me soaram como um tiro de partida: "Estás com seis dedos!". Lágrimas. Sorrisos. Gaguez súbita. Nervoso miudinho. Estava na hora. Isto está mesmo a acontecer-me!
"Se queres ir para o hospital, temos de ir já. Ou queres ficar aqui?" Num instante, imaginei-me a entrar no carro, imaginei o trânsito, chegar ao hospital, preencher papéis, perder a minha roupa e sei lá mais que maldades me poderiam fazer.
Decidimos ficar. Na sala destinada a fazer a dilatação antes de ir para o hospital, na sala onde se pode aprender a massajar os bebés, na sala onde já tinhamos pensado "que giro seria parir aqui".
De repente deixei de ser eu.
Os pensamentos voaram da minha cabeça e fiquei entregue ao meu corpo. A roupa foi-me saíndo pelas pernas e pelos braços sem eu dar conta. Um calor a correr-me pelas veias. Os olhos a fecharem-se para ser só eu e o meu bebé.
O silêncio. As mãos reconfortantes da médica, da enfermeira e do Hélder na minha pele. Eu em pé agarrada à balança que pesa os bebés. Eu sentada no banco de parir. Eu de gatas. Eu pendurada no pescoço do Hélder. Eu sem saber que coisa era aquela que estava a sentir. Umas ondas que de vez em quando me revolviam as entranhas.
O Hélder sempre ali. Enroscado em mim. Olhando-me nos olhos. Segurando-me. Mudo (tantas vezes eu lhe tinha pedido: "não me digas nada"). A médica e a enfermeira sentadas no chão, vestidas de branco e cor-de-rosa, sem sapatos, sem relógio. As consultas acabaram por hoje.
A música que eu escolhi. Está a tocar a música que eu escolhi. Um som ameno que me transporta para o aconchego da minha casa. Tantas vezes eu me imaginei a fazer-te nascer, Catarina, ao som desta música. Mas por mais que imaginasse, nunca suporia isto que me está a acontecer.
As ondas vão e vêm. Avisam primeiro. Começam pelo fundo da barriga para inundar o corpo todo em poucos segundos. Depois, a maré desce e tudo fica calmo. Respiro fundo e reparo que a canção diz "Dreaming my dreams with you". Só espero que isto corra bem. Só espero...
A médica encosta o CTG portátil à minha barriga. "O bebé está bem", diz-me baixinho.
Abro os olhos por um segundo e vejo mais um sorriso que me conforta. Chegou a minha doula. Lembro-me que falei com ela ao telefone antes de entrar na sala, mas não faço ideia do que lhe disse. Já não era eu.
Oiço os gritos que saem da minha boca e não os conheço. Não posso ser eu. Eu nunca gritei assim. Pareço uma leoa. Nua. Cabelos desgrenhados. Livre. Cheia de poder. Cheia de força. Cheia do mundo todo dentro de mim a querer saír.
Penso na Catarina. Como será ela? Como será vê-la? Tê-la ao colo. Chamo por ela.
Não tenho medo. Não tenho pressa. Não faço ideia há quanto tempo isto me está a acontecer. Sento-me no banco de parir, com os pés firmes no chão e encosto-me para trás, ao peito do Hélder. Foi o meu corpo que assim quis. Vejo a médica e a enfermeira sentadas à chinês à minha frente. Pedem-me que me solte, que me liberte. Deixo-me ir.
A Catarina já espreita. Já posso senti-la. Estico a mão e toco-lhe levemente o cocuruto. Eu toquei na minha filha! Sinto o bafo quente do Hélder na minha orelha. Sinto que ele está a sorrir. Rio-me com ele. É o primeiro momento-mais-feliz-da-minha-vida do dia de hoje.
As ondas transformam-se num incêndio. O meu corpo todo arde. A porta de saída é um anel de fogo. Grito mais alto e mais estridente do que a sirene dos bombeiros. Aí vem ela. A cabeça já está deste lado. És tão corajosa, Catarina.
Respiro fundo. Espero. Tu é que decides quando queres entrar nesta vida. Enquanto te preparas, faço-te mais uma festa. São ondas, são marés, são fogos, são labaredas, é frio, é calor. É o mundo todo a saír-me de dentro directamente para me encher os braços, o peito e a vida.
Minha filha.
Finalmente tenho-te deste lado. Serena. Quente. Macia. Forte. Maravilhosa.
Os braços do Hélder por cima dos meus. Não existe mais nada. Somos só nós os três. E eu agora de olhos bem abertos. E o corpo que volta a ser meu para te poder sentir com todos os poros.
Abres tu também os olhos. Olhas-me enquanto procuras a mama. Parece que toda a vida fizemos isto. Parece que toda a vida nos conhecemos.
Aos poucos volto a ser o que ainda resta de mim. Estou cansada mas cheia de energia. Tenho fome. Tenho vontade de ir à rua gritar "Vejam bem o que me aconteceu!"
O pediatra, chamado de propósito observa-te ao meu colo.
Admira-se ao ver-te mamar com tanto vigor. Ausculta-te sem te tirar dos meus braços. "Está super!"
Deitamo-nos num colchão. Pai, mãe e filha juntinhos, pele com pele. Vejo que o sol continua a brilhar lá fora.
Epodo
Os meus desejos são ordens. Apetece-me pão com manteiga e um sumo de fruta. Num instante, aparece uma bandeja com o melhor pão com manteiga do mundo, sumos frescos e uma broas tão saborosas como o momento.
Estou no máximo da adrenalina.
Parece que tenho uns elásticos a prenderem-me os cantos da boca às orelhas. Médica, enfermeira, doula e pai também sorriem, orgulhosos. Só tu descansas, imune ao que te espera.
A prima Lúcia junta-se a nós. Foi ela que trouxe a minha mala da maternidade. Foi graças a ela que pude ser embalada pela música doce dos Cranberries.
Passamos o tempo a observar-te, a tocar-te, a cheirar-te, a amar-te. É impossível dormir, tal é a excitação. Ao final da tarde, estreias o teu primeiro fato, a tua primeira fralda. A minha roupa também volta ao meu corpo. Devagar, a vida recupera o ritmo.
A caminho de casa parece-me estranho que os carros continuem a andar, os prédios se mantenham de pé, as pessoas permaneçam indiferentes, depois da fantástica aventura que acabou de me acontecer.
Entro na minha sala ainda de dia. A doula certifica-se de que não nos falta nada. A médica irá visitar-nos no dia seguinte.
A família mais próxima faz questão de nos ir dar um beijinho. Estão doidos com a nossa proeza. Como uma sopa deliciosa feita pela minha mãe.
24 de Maio de 2007. 14h07. Coordenadas de um dia perfeito. Abres os olhos, mamas e voltas ao teu sossego. Dormimos os três na nossa cama. Exaustos. Felizes. Apaixonados. Completos. A noite inteira abraçados. A minha família.
*Título "roubado" à canção "Ode to my family", dos Cranberries
Texto de Patrícia Lamúrias,
in revista "Pais & Filhos", Maio/08
4 comentários:
lindo...
Simplesmente brilhante a descrição do parto!
até me comoveu e me transportou de novo para o momento do parto da minha filha, há quase 11 meses atrás.
obrigada Sofia pelo seu excelente trabalho neste blog
foi tão bonito que quase chorei, fiquei emocionada!
deve ser bom ter um parto assim, deitada torna tudo mais dificil, doloroso.
excelente trabalho este blog! beijos
incrivel e belo
parabéns
Rita
37w 3d
Enviar um comentário