Apesar do avanço do conhecimento, o parto é ainda um mundo povoado de dúvidas, mistérios e medos.
Para muitas mulheres, é um absoluto desconhecido. Desfaça alguns dos mitos mais comuns nos dias de hoje.
«A dor de parto é intolerável»
Se há um medo universal associado ao parto é este. Muito porque o nascimento continua a estar ligado, na nossa cultura, à ideia de sofrimento. Mas a dor é uma sensação muito subjectiva. E a maneira como se lida com ela - aceitá-la ou tentar desesperadamente eliminá-la - é fulcral no desenrolar do trabalho de parto.
É importante perceber que, ao contrário das outras dores, a dor de parto não é um sinal de que algo está errado no nosso corpo. Por várias razões, é uma dor muito diferente de todas as outras. É gradual e intermitente, permitindo à mulher recuperar forças entre as contracções.A sua intensidade depende não só de grávida para grávida, como das condições em que a mulher dá à luz: nível de relaxamento, privacidade, apoio de familiares e profissionais, posição de parto e ambiente que a rodeia.
O medo da dor é o principal inimigo da mulher em trabalho de parto.
Quando há medo, aumenta a tensão, que aumenta a dor. O melhor plano para encarar a dor é senti-la como uma aliada no processo de fazer nascer o bebé. Acreditar que ela tem uma função fisiológica e tentar dar à luz num ambiente propício: sem imposições de terceiros, sem stress e sem intervenções desnecessárias. E confiar na Natureza. Se a dor de parto fosse realmente impossível de suportar, há muito que a Humanidade se tinha extinguido...
«Se o meu parto for de cesariana, a vinculação ao bebé é posta em causa»
Por vezes, as grávidas ficam de tal modo prisioneiras de uma ideia de parto que não concebem outra. Mas os imprevistos acontecem e nem sempre os bebés podem nascer por via vaginal. No caso das mulheres que desejam a todo o custo ter um parto normal ou natural (sem medicamentos ou intervenções desnecessárias), é frequente pensarem que a cesariana prejudica a vinculação ao bebé. Nada mais falso.A ligação a um recém-nascido não depende exclusivamente da forma como decorre o parto. É certo que o parto não cirúrgico permite um contacto imediato com o bebé e uma recuperação mais rápida, mas não é necessariamente sinal de vinculação instantânea.
Uma experiência negativa de parto pode comprometer o vínculo ao bebé numa fase inicial (pelo cansaço, pela desilusão), mas isso tanto pode acontecer numa cesariana, como num parto vaginal. O fundamental é que a mulher consiga viver bem o momento do parto. Sentir que teve um papel activo no nascimento do filho e que não se limitou a ser uma mera espectadora. Mesmo que a cesariana seja inevitável.
«A epidural é a melhor amiga da mulher»
A técnica anestésica mais comum durante o parto divide-se em analgesia epidural (destinada aos partos vaginais) e anestesia epidural (utilizada nas cesarianas). Ambas bloqueiam as sensações dolorosas nas zonas do abdómen e pélvica. Consistem na introdução de um cateter na parte inferior das costas, entre os ossos das vértebras inferiores, por onde irão passar as substâncias medicamentosas que eliminam a dor.
Se a utilização da técnica é consensual nas cesarianas, o mesmo não se pode dizer nos partos normais. Nestes casos, a epidural não deve ser encarada como uma técnica livre de contra-indicações. Em primeiro lugar, porque comporta alguns riscos (por esse motivo, antes de se submeterem à analgesia, as mulheres têm de assinar um consentimento informado) e, em segundo, porque se trata de uma intervenção que pode tornar o período expulsivo mais difícil, aumentando a probabilidade de recurso ao fórceps para ajudar o bebé a nascer.
Apesar de eliminar a dor, a epidural, é preciso assumi-lo, limita o papel da mulher durante o parto: por estar anestesiada e relaxada, muitas vezes ela não sabe quando fazer força e necessita que a 'conduzam'.Há mulheres que decidem submeter-se à analgesia epidural ainda antes do parto. Como podem saber se vão, de facto, necessitar da intervenção do anestesista?
A epidural deve ser estudada antes do nascimento - o efeito, as contra-indicações - mas ter a certeza de que sem ela não se passa, só no momento. Não é possível antecipar a intensidade da dor de parto nem o nível de resistência da grávida.
«A epidural representa um risco muito grande»
Não é a solução para todos os males, mas também não é o perigo que, por vezes, se imagina que é. A analgesia epidural é, hoje, uma técnica praticada com segurança pelos médicos anestesistas. São raros os casos em que alguma coisa corre mal.
Os efeitos negativos mais comuns incluem dores de cabeça e formigueiro nas pernas. Para além disso, é eficaz. A dor de parto é realmente eliminada. Para muitas mulheres, o alívio da sensação dolorosa devolve-lhes a serenidade necessária para dar à luz.
Do mesmo modo que a decisão de se submeter à epidural não deve ser tomada antes do parto, também a sua recusa não deve ser equacionada antes de tempo. Isto é particularmente verdade para as grávidas de primeiro filho, que nunca viveram uma experiência de parto.
O melhor é esperar para ouvir o que diz o corpo. À partida, qualquer mulher está preparada para ter um filho sem epidural, mas, por vezes, há factores que potenciam a dor: posição de parto, ambiente hospitalar, decisão de acelerar o nascimento com fármacos, trabalho de parto longo. Nestes casos, a epidural pode ajudar.
«O pai tem de estar sempre presente»
É uma das grandes mudanças na forma de encarar o nascimento e uma das mais importantes bandeiras da humanização do parto. A abertura da sala de partos ao pai nas últimas décadas permitiu que os homens passassem a tomar contacto com uma realidade que até então lhes era praticamente vedada.
O parto deixou de ser um 'assunto de mulheres' para passar a ser uma experiência partilhada entre os membros do casal. A maior parte das maternidades e hospitais admite a presença do pai durante o trabalho de parto e, hoje em dia, são poucos os que recusam assistir ao nascimento dos filhos.
Mas será a presença do pai obrigatória? Teremos passado de um extremo ao outro: da ausência total do pai no momento do parto à ditadura da sua presença? Não havendo imposições, nem expectativas impossíveis de cumprir, a participação do pai no parto é um bálsamo. Sobretudo, pelo apoio emocional que presta à mãe.
Para o bebé, é um tesouro haver um acréscimo de vinculação. Mas nem todos os homens se sentem preparados para um momento destes. Falta de à vontade, falta de sangue frio, falta de serenidade. A ideia de ver nascer o filho pode trazer ansiedade e angústia aos homens e eles não deverão ser culpabilizados por isso. O essencial é o desejo de ambos os pais.
«Se não der de mamar logo a seguir ao parto, perco a oportunidade de amamentar o meu bebé»
O importante é querer dar de mamar. Se, por alguma razão, a recém-mãe não puder ou não conseguir amamentar o seu bebé nas horas que se seguem ao parto (isto é frequente nos casos de cesariana ou de partos muito difíceis), o aleitamento não está necessariamente em causa.
As hormonas que desencadeiam o processo podem ser estimuladas durante um período de tempo aceitável. Há mulheres que decidem amamentar um mês depois do parto e conseguem. Tudo é reversível, pode ser mais difícil, mas é possível voltar atrás. Por vezes, é necessário procurar ajuda para desbloquear o processo e aprender a dar de mamar.
A grande maioria das mulheres produz leite suficiente para alimentar os filhos, mas nem sempre sabe como fazê-lo. Além disso, apesar de ser um processo natural, a amamentação pode revelar-se complicada e difícil. Muitas vezes, é preciso insistir. Isto é particularmente verdade nos casos de bebés que não mamaram logo a seguir ao parto. Uma enfermeira especialista em saúde materna ou uma doula poderão dar um apoio precioso.
O importante é ter em mente que, quanto mais o bebé mamar, mais leite é produzido e que os bebés devem mamar em regime livre e não com um horário fixo. E, o mais importante de tudo, que não há dois bebés nem duas mães iguais. A amamentação é uma dança. Mãe e bebé têm de encontrar o seu próprio ritmo.
«Actualmente, a cesariana é uma intervenção sem riscos»
Eis o mito maior. É certo que a cesariana é uma intervenção cada vez mais segura, mas isso não a torna isenta de riscos. A morbilidade e a mortalidade maternas associadas a esta forma de nascer - é preciso não esquecer que se trata de uma cirurgia! - são significativamente mais elevadas do que no parto vaginal. O risco de complicações infecciosas é cinco a 20 vezes maior.
A possibilidade de ocorrer uma hemorragia também é expressivamente mais alta: seis a oito vezes. Para os bebés, nos casos de cesarianas electivas antes das 39 semanas, há o risco de ocorrer uma situação de distress respiratório (insuficiência respiratória).
Para além destes riscos, há também a questão da recuperação pós-parto. No caso da cesariana, o restabelecimento é, inevitavelmente, mais difícil, longo e doloroso. O bisturi corta sete camadas de tecido, incluindo músculo abdominal.
Há indicações absolutas para realizar uma cesariana, como os casos de placenta prévia (quando a placenta cobre parcial ou completamente o orifício interno do colo uterino), e outras mais subjectivas, como a indicação de sofrimento fetal.
Seja qual for o cenário, a cesariana só deve ser efectuada em casos de comprovada necessidade. É essa a recomendação de todos os organismos internacionais que estudaram esta questão, como a Organização Mundial de Saúde e o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas.
«O parto em casa é perigoso»
Em 1996, o conceituado British Medical Journal dedicou um número inteiro ao parto domiciliário, onde foram publicados vários estudos sobre esta temática. No editorial, um professor holandês escreveu que o parto em casa é uma opção segura para as gravidezes de baixo risco, desde que as mulheres tenham apoio especializado e infra-estruturas adequadas.
Essa é a realidade no Reino Unido. O sistema de saúde permite que a mulher dê à luz em casa, se essa for a sua opção. As parteiras estão organizadas de forma a dar assistência e apoio a estes casos e o Estado comparticipa.
Em Maio do ano passado, a então ministra da Saúde inglesa, Patricia Hewitt, veio mesmo dizer que é necessário desfazer o mito enraizado de que o hospital é o local mais seguro para ter um bebé. A responsável falou de uma estratégia de promoção do parto no domicílio, com o apoio do serviço nacional de saúde, no sentido de 'desmedicalizar' a gravidez e o parto.
Enquanto não se passa da intenção à prática, o parlamento inglês vai premiando anualmente os hospitais e centros de nascimento (pequenas unidades geridas por parteiras) que promovam o parto normal e o nascimento em casa.
«A episiotomia é obrigatória»
Outro grande mito difícil de combater. A ideia de que é melhor 'cortar para não rasgar' instalou-se entre os obstetras e criou raízes.
A episiotomia - incisão no períneo (área muscular compreendida entre a vagina e o ânus) e na parede vaginal, que tem por objectivo abreviar o parto - é, hoje, um procedimento rotineiro em Obstetrícia e um dos poucos realizado sem qualquer consentimento da mulher.
Mas os estudos científicos que analisaram as vantagens e os inconvenientes da técnica mostram que não há razões para continuar a executar, indiscriminadamente, a incisão no períneo durante o parto. A Organização Mundial de Saúde contesta fortemente o uso sistemático desta técnica e apela à selectividade dos critérios. Apenas deverá ser usada em casos de iminente rompimento do períneo.
Os riscos associados ao uso rotineiro da episiotomia são significativos e devem ser tidos em conta tanto pelos médicos como pelas grávidas. Ao contrário do que se pensa, o corte não previne as lesões do períneo. Pelo contrário, existe evidência de que poderá provocá-las. Outro dado: recuperar de uma episiotomia não é fácil - trata-se de um corte completo dos tecidos -, quem passou por isso sabe.
«Não dilata: tem de ser cesariana»
Tecnicamente, não existe falta de dilatação. Existem sim tempos diferentes de dilatação e contextos de parto distintos. Cada mulher é um caso. Por vezes, pode ocorrer uma paragem da dilatação.
Provavelmente devido às muitas interferências a que as grávidas em trabalho de parto estão sujeitas nos hospitais: ambiente ruidoso, clima de tensão, excesso de pessoas na sala de partos, sucessivos exames vaginais.
O medo do parto também pode interferir na progressão da dilatação. A grávida começa a sentir-se tensa e não consegue descontrair. A falta de relaxamento é um dos maiores entraves à progressão da dilatação.
Se a situação persistir, apesar de a grávida estar a sentir contracções, pode ser necessário intervir cirurgicamente (o trabalho de parto estacionário é uma das principais causas de cesariana).
Mas o importante é prevenir este desfecho: para que a dilatação evolua normalmente, a mulher em trabalho de parto não deve ser perturbada e o ambiente que a rodeia deve ser de calma e serenidade. Evitar chegar cedo demais à maternidade - não é preciso ir a correr ir para o hospital assim que a bolsa de águas rebenta - é uma forma de acautelar essas interferências negativas.
Texto de Maria João Amorim, 06 Novembro 2007
Fonte: http://www.paisefilhos.pt/
Para muitas mulheres, é um absoluto desconhecido. Desfaça alguns dos mitos mais comuns nos dias de hoje.
«A dor de parto é intolerável»
Se há um medo universal associado ao parto é este. Muito porque o nascimento continua a estar ligado, na nossa cultura, à ideia de sofrimento. Mas a dor é uma sensação muito subjectiva. E a maneira como se lida com ela - aceitá-la ou tentar desesperadamente eliminá-la - é fulcral no desenrolar do trabalho de parto.
É importante perceber que, ao contrário das outras dores, a dor de parto não é um sinal de que algo está errado no nosso corpo. Por várias razões, é uma dor muito diferente de todas as outras. É gradual e intermitente, permitindo à mulher recuperar forças entre as contracções.A sua intensidade depende não só de grávida para grávida, como das condições em que a mulher dá à luz: nível de relaxamento, privacidade, apoio de familiares e profissionais, posição de parto e ambiente que a rodeia.
O medo da dor é o principal inimigo da mulher em trabalho de parto.
Quando há medo, aumenta a tensão, que aumenta a dor. O melhor plano para encarar a dor é senti-la como uma aliada no processo de fazer nascer o bebé. Acreditar que ela tem uma função fisiológica e tentar dar à luz num ambiente propício: sem imposições de terceiros, sem stress e sem intervenções desnecessárias. E confiar na Natureza. Se a dor de parto fosse realmente impossível de suportar, há muito que a Humanidade se tinha extinguido...
«Se o meu parto for de cesariana, a vinculação ao bebé é posta em causa»
Por vezes, as grávidas ficam de tal modo prisioneiras de uma ideia de parto que não concebem outra. Mas os imprevistos acontecem e nem sempre os bebés podem nascer por via vaginal. No caso das mulheres que desejam a todo o custo ter um parto normal ou natural (sem medicamentos ou intervenções desnecessárias), é frequente pensarem que a cesariana prejudica a vinculação ao bebé. Nada mais falso.A ligação a um recém-nascido não depende exclusivamente da forma como decorre o parto. É certo que o parto não cirúrgico permite um contacto imediato com o bebé e uma recuperação mais rápida, mas não é necessariamente sinal de vinculação instantânea.
Uma experiência negativa de parto pode comprometer o vínculo ao bebé numa fase inicial (pelo cansaço, pela desilusão), mas isso tanto pode acontecer numa cesariana, como num parto vaginal. O fundamental é que a mulher consiga viver bem o momento do parto. Sentir que teve um papel activo no nascimento do filho e que não se limitou a ser uma mera espectadora. Mesmo que a cesariana seja inevitável.
«A epidural é a melhor amiga da mulher»
A técnica anestésica mais comum durante o parto divide-se em analgesia epidural (destinada aos partos vaginais) e anestesia epidural (utilizada nas cesarianas). Ambas bloqueiam as sensações dolorosas nas zonas do abdómen e pélvica. Consistem na introdução de um cateter na parte inferior das costas, entre os ossos das vértebras inferiores, por onde irão passar as substâncias medicamentosas que eliminam a dor.
Se a utilização da técnica é consensual nas cesarianas, o mesmo não se pode dizer nos partos normais. Nestes casos, a epidural não deve ser encarada como uma técnica livre de contra-indicações. Em primeiro lugar, porque comporta alguns riscos (por esse motivo, antes de se submeterem à analgesia, as mulheres têm de assinar um consentimento informado) e, em segundo, porque se trata de uma intervenção que pode tornar o período expulsivo mais difícil, aumentando a probabilidade de recurso ao fórceps para ajudar o bebé a nascer.
Apesar de eliminar a dor, a epidural, é preciso assumi-lo, limita o papel da mulher durante o parto: por estar anestesiada e relaxada, muitas vezes ela não sabe quando fazer força e necessita que a 'conduzam'.Há mulheres que decidem submeter-se à analgesia epidural ainda antes do parto. Como podem saber se vão, de facto, necessitar da intervenção do anestesista?
A epidural deve ser estudada antes do nascimento - o efeito, as contra-indicações - mas ter a certeza de que sem ela não se passa, só no momento. Não é possível antecipar a intensidade da dor de parto nem o nível de resistência da grávida.
«A epidural representa um risco muito grande»
Não é a solução para todos os males, mas também não é o perigo que, por vezes, se imagina que é. A analgesia epidural é, hoje, uma técnica praticada com segurança pelos médicos anestesistas. São raros os casos em que alguma coisa corre mal.
Os efeitos negativos mais comuns incluem dores de cabeça e formigueiro nas pernas. Para além disso, é eficaz. A dor de parto é realmente eliminada. Para muitas mulheres, o alívio da sensação dolorosa devolve-lhes a serenidade necessária para dar à luz.
Do mesmo modo que a decisão de se submeter à epidural não deve ser tomada antes do parto, também a sua recusa não deve ser equacionada antes de tempo. Isto é particularmente verdade para as grávidas de primeiro filho, que nunca viveram uma experiência de parto.
O melhor é esperar para ouvir o que diz o corpo. À partida, qualquer mulher está preparada para ter um filho sem epidural, mas, por vezes, há factores que potenciam a dor: posição de parto, ambiente hospitalar, decisão de acelerar o nascimento com fármacos, trabalho de parto longo. Nestes casos, a epidural pode ajudar.
«O pai tem de estar sempre presente»
É uma das grandes mudanças na forma de encarar o nascimento e uma das mais importantes bandeiras da humanização do parto. A abertura da sala de partos ao pai nas últimas décadas permitiu que os homens passassem a tomar contacto com uma realidade que até então lhes era praticamente vedada.
O parto deixou de ser um 'assunto de mulheres' para passar a ser uma experiência partilhada entre os membros do casal. A maior parte das maternidades e hospitais admite a presença do pai durante o trabalho de parto e, hoje em dia, são poucos os que recusam assistir ao nascimento dos filhos.
Mas será a presença do pai obrigatória? Teremos passado de um extremo ao outro: da ausência total do pai no momento do parto à ditadura da sua presença? Não havendo imposições, nem expectativas impossíveis de cumprir, a participação do pai no parto é um bálsamo. Sobretudo, pelo apoio emocional que presta à mãe.
Para o bebé, é um tesouro haver um acréscimo de vinculação. Mas nem todos os homens se sentem preparados para um momento destes. Falta de à vontade, falta de sangue frio, falta de serenidade. A ideia de ver nascer o filho pode trazer ansiedade e angústia aos homens e eles não deverão ser culpabilizados por isso. O essencial é o desejo de ambos os pais.
«Se não der de mamar logo a seguir ao parto, perco a oportunidade de amamentar o meu bebé»
O importante é querer dar de mamar. Se, por alguma razão, a recém-mãe não puder ou não conseguir amamentar o seu bebé nas horas que se seguem ao parto (isto é frequente nos casos de cesariana ou de partos muito difíceis), o aleitamento não está necessariamente em causa.
As hormonas que desencadeiam o processo podem ser estimuladas durante um período de tempo aceitável. Há mulheres que decidem amamentar um mês depois do parto e conseguem. Tudo é reversível, pode ser mais difícil, mas é possível voltar atrás. Por vezes, é necessário procurar ajuda para desbloquear o processo e aprender a dar de mamar.
A grande maioria das mulheres produz leite suficiente para alimentar os filhos, mas nem sempre sabe como fazê-lo. Além disso, apesar de ser um processo natural, a amamentação pode revelar-se complicada e difícil. Muitas vezes, é preciso insistir. Isto é particularmente verdade nos casos de bebés que não mamaram logo a seguir ao parto. Uma enfermeira especialista em saúde materna ou uma doula poderão dar um apoio precioso.
O importante é ter em mente que, quanto mais o bebé mamar, mais leite é produzido e que os bebés devem mamar em regime livre e não com um horário fixo. E, o mais importante de tudo, que não há dois bebés nem duas mães iguais. A amamentação é uma dança. Mãe e bebé têm de encontrar o seu próprio ritmo.
«Actualmente, a cesariana é uma intervenção sem riscos»
Eis o mito maior. É certo que a cesariana é uma intervenção cada vez mais segura, mas isso não a torna isenta de riscos. A morbilidade e a mortalidade maternas associadas a esta forma de nascer - é preciso não esquecer que se trata de uma cirurgia! - são significativamente mais elevadas do que no parto vaginal. O risco de complicações infecciosas é cinco a 20 vezes maior.
A possibilidade de ocorrer uma hemorragia também é expressivamente mais alta: seis a oito vezes. Para os bebés, nos casos de cesarianas electivas antes das 39 semanas, há o risco de ocorrer uma situação de distress respiratório (insuficiência respiratória).
Para além destes riscos, há também a questão da recuperação pós-parto. No caso da cesariana, o restabelecimento é, inevitavelmente, mais difícil, longo e doloroso. O bisturi corta sete camadas de tecido, incluindo músculo abdominal.
Há indicações absolutas para realizar uma cesariana, como os casos de placenta prévia (quando a placenta cobre parcial ou completamente o orifício interno do colo uterino), e outras mais subjectivas, como a indicação de sofrimento fetal.
Seja qual for o cenário, a cesariana só deve ser efectuada em casos de comprovada necessidade. É essa a recomendação de todos os organismos internacionais que estudaram esta questão, como a Organização Mundial de Saúde e o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas.
«O parto em casa é perigoso»
Em 1996, o conceituado British Medical Journal dedicou um número inteiro ao parto domiciliário, onde foram publicados vários estudos sobre esta temática. No editorial, um professor holandês escreveu que o parto em casa é uma opção segura para as gravidezes de baixo risco, desde que as mulheres tenham apoio especializado e infra-estruturas adequadas.
Essa é a realidade no Reino Unido. O sistema de saúde permite que a mulher dê à luz em casa, se essa for a sua opção. As parteiras estão organizadas de forma a dar assistência e apoio a estes casos e o Estado comparticipa.
Em Maio do ano passado, a então ministra da Saúde inglesa, Patricia Hewitt, veio mesmo dizer que é necessário desfazer o mito enraizado de que o hospital é o local mais seguro para ter um bebé. A responsável falou de uma estratégia de promoção do parto no domicílio, com o apoio do serviço nacional de saúde, no sentido de 'desmedicalizar' a gravidez e o parto.
Enquanto não se passa da intenção à prática, o parlamento inglês vai premiando anualmente os hospitais e centros de nascimento (pequenas unidades geridas por parteiras) que promovam o parto normal e o nascimento em casa.
«A episiotomia é obrigatória»
Outro grande mito difícil de combater. A ideia de que é melhor 'cortar para não rasgar' instalou-se entre os obstetras e criou raízes.
A episiotomia - incisão no períneo (área muscular compreendida entre a vagina e o ânus) e na parede vaginal, que tem por objectivo abreviar o parto - é, hoje, um procedimento rotineiro em Obstetrícia e um dos poucos realizado sem qualquer consentimento da mulher.
Mas os estudos científicos que analisaram as vantagens e os inconvenientes da técnica mostram que não há razões para continuar a executar, indiscriminadamente, a incisão no períneo durante o parto. A Organização Mundial de Saúde contesta fortemente o uso sistemático desta técnica e apela à selectividade dos critérios. Apenas deverá ser usada em casos de iminente rompimento do períneo.
Os riscos associados ao uso rotineiro da episiotomia são significativos e devem ser tidos em conta tanto pelos médicos como pelas grávidas. Ao contrário do que se pensa, o corte não previne as lesões do períneo. Pelo contrário, existe evidência de que poderá provocá-las. Outro dado: recuperar de uma episiotomia não é fácil - trata-se de um corte completo dos tecidos -, quem passou por isso sabe.
«Não dilata: tem de ser cesariana»
Tecnicamente, não existe falta de dilatação. Existem sim tempos diferentes de dilatação e contextos de parto distintos. Cada mulher é um caso. Por vezes, pode ocorrer uma paragem da dilatação.
Provavelmente devido às muitas interferências a que as grávidas em trabalho de parto estão sujeitas nos hospitais: ambiente ruidoso, clima de tensão, excesso de pessoas na sala de partos, sucessivos exames vaginais.
O medo do parto também pode interferir na progressão da dilatação. A grávida começa a sentir-se tensa e não consegue descontrair. A falta de relaxamento é um dos maiores entraves à progressão da dilatação.
Se a situação persistir, apesar de a grávida estar a sentir contracções, pode ser necessário intervir cirurgicamente (o trabalho de parto estacionário é uma das principais causas de cesariana).
Mas o importante é prevenir este desfecho: para que a dilatação evolua normalmente, a mulher em trabalho de parto não deve ser perturbada e o ambiente que a rodeia deve ser de calma e serenidade. Evitar chegar cedo demais à maternidade - não é preciso ir a correr ir para o hospital assim que a bolsa de águas rebenta - é uma forma de acautelar essas interferências negativas.
Texto de Maria João Amorim, 06 Novembro 2007
Fonte: http://www.paisefilhos.pt/
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